sexta-feira, 5 de março de 2021

Cartas


Ah, saudade da época das cartas de amor.
Tantas me mandaste, outras tantas te enviei.
Envelopes de várias cores, colados e selados.
Passaram por lugares variados, longo roteiro.
Angustiante espera, ansiosos dias passados,
Mas me acalmava ao ouvir o chamado: carteiro!
 
Corria em direção a caixa dos correios.
Retirava, um pouco amassada, abraçava.
Tua presença indo de encontro ao meu peito.
Momento de emoção que nos entrelaçava.
Teu nome escrito no remetente, certeza.
Sentava e abria, ritualística feita muitas vezes.
 
Figurinhas que enfeitavam o papel escrito.
Aroma delicado de perfume que eu sentia.
Tocava aquela letras com muito carinho.
Beijava teu ser refletido nas palavras lidas.
Caligrafia caprichada nas frases dos relatos.
Histórias de momentos de tristezas e alegrias.
 
O sabor de viver naquele espaço cabia.
No Natal, Noel apertado sua sina cumpria.
Iluminado pela estrela vinha a sagrada família.
No aniversário, uma lembrancinha, o que viria?
Novo cartão com bela mensagem e musiquinha?
A cada data comemorativa nova vida ressurgia.
 
Na caixinha guardava as cartas lidas e relidas.
Adormecidas, as acordava para de te relembrar.
Através dos anos mudaram os planos e os endereços.
Brigas e pazes, mas permanecia intacta a ternura.
Daqui pra lá e de lá pra cá tinha amor e respeito.
 
Fotografia tardiamente revelada, admirar.
Sem instantaneidade, momento marcado.
O tempo foi no compasso, veio o celular.
Texto pronto,voz ampliada e rosto alterado.
É Ctrl C e Ctrl V, pouco se descreve a lápis.
Falta tempo, tudo é líquido e formatado.
 
Nos modernizamos e o caderno prescreveu?
A valorização do manuscrito agora é insensatez?
Saudosismo fez morada dentro da nossas cartas,
Lar eternizado de nosso ser através do espaço e tempo.
Hoje não há lamento, lembro, olha, ali está tu e eu,
Não é um adeus que se fez, mas felicidades transcritas.

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"Não me tires o que não me podes dar!... Deixa-me ao meu sol."
- Diógenes de Sinope