sábado, 2 de dezembro de 2017

A Orquídea e o Tempo

Orquídeas e Beija-Flores - A Arte Tropical de Martin Heade


“Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única desse momento que nunca mais será” – Rubem Alves.


        Certa vez contemplando uma orquídea com suas pétalas estendidas ao sol de primavera, me perguntei: “Por que o tempo que gastamos com algo que nos faz feliz se esvai tão depressa?”.

     Esforçava-me na busca de uma resposta capaz de acalentar um coração que aos pulos clamava olhando a orquídea: “ainda não é hora de partir!”.

Observava insistentemente o relógio que impiedoso me fazia entristecer a cada segundo que passava, olhei-o umas quatro vezes e pedia a minha alma:" Acalma! Mostra-me um poema que seja capaz de descrever sobre o tempo que não segue seu fluxo, que o faça estacionar, assim não perderei tão bela contemplação que ilumina meu ser”.

    Contudo, a luta era vã, quanto mais eu acariciava aquela magnífica flor, mais sentia que ela iria perecer, e ao chegar o tempo da partida me restaria apenas à solidão de não mais tê-la como companheira dos meus olhos e do coração.
    Meus sentimentos por ela lembrava o cavalo que brigava contra o cercado para atravessá-lo e conquistar a tão sonhada liberdade, e no meu caso, finalmente, ficar próximo da flor tão desejada sem que o tempo interferisse, queria eternizar o encontro. No entanto, a realidade mostrava por intermédio dos ferimentos das tentativas de vencer a cerca que o tempo o outra vez vencera, e se por uma força do destino rompesse à prisão, provavelmente devido aos seus ferimentos pereceria logo a frente, pois o precipício armado pelo tempo que a estava fazendo a orquídea murchar, o atiraria no abismo da perda e da falta de força para lutar. De nada adiantaria tal esforço, pois o tempo da orquídea chegaria.
    Mesmo assim, o coração forçava a mente a criar uma forma de duração daquele encontro. Então, veio à ideia de plantio de outros pés de orquídeas, a realidade diria: " veja ao seu redor, existem outras que podem trazer tanta felicidade quanta aquela". Mas, apesar de idênticas, pertencer à mesma espécie, o coração dizia aos olhos quase em prantos: “a que contemplo é única”. Para olhos sem coração toda flor é igual.
    Ah! Tempo implacável!, Para! Gritava meu sentimento, mas até mesmo o sentimento às vezes sucumbi diante da contagem do tempo.
  Toquei as suas pétalas numa luta para que ao menos seu perfume permanecesse em minhas mãos, e por um instante ficou, mais iria passar, haja visto que o tempo se encarregaria de retirar o aroma, até isso seria levado.
    E ela foi murchando como se despedisse dos meus olhos, enquanto o coração embalava uma triste batida de adeus porque queria a eterna presença. Infeliz com a partida se amargurava, até que se conformou ao lembrar: “sim, restou ao triste coração à lembrança, ela poderia reavivar sempre que pudesse a imagem da orquídea, mas sabendo que o tempo também é senhor da memória, então, conformou-se de uma vez por toda, pois ele poderia apagar a existência da esperançosa imagem criada”. 
     Enfim, o coração suplicava aos olhos e a lembrança como último alento, faz que a cada primavera eu me iluda ao contemplar outras orquídeas, porque assim, reviverei mesmo que no avesso de um espelho aquela que nunca mais será, mais que ainda é, porque não a deixo morrer dentro de mim, porque aquele instante foi eterno, como eterno e único foram os instantes vividos de contemplação ao seu lado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Não me tires o que não me podes dar!... Deixa-me ao meu sol."
- Diógenes de Sinope