Cansado de batalhas o cavaleiro senta-se a sombra da árvore. Guarda sua espada e sua vestimenta de lutas. Está desnudo de proteção que transparecia força diante dos seus inimigos.
Cava a terra como se estivesse abrindo uma ferida no seu próprio coração, naquele chão aberto enterra todos os objetos que um dia lhe fizeram um grande cavaleiro.
No seu ser existe um caos, tantos anos de uso dos artefatos de batalha, agora sua dispersão causa angústia, pois é chegado o momento do encontro consigo mesmo.
Começa seu caminhar, possui as técnicas de luta e sobrevivência, no entanto, o brilho de sua espada e armadura foi sepultado naquele chão. Para que não mais seja descoberta, planta flores e árvores como se desejasse fazer uma homenagem ante um epitáfio imaginário: “Aqui jaz quem escreveu seu nome com sangue e nobreza”. Despede-se e vai.
É um caminhar diferente, lento, seu corpo parece sentir a leveza e o peso, mas segue sem destino algum; batalhas não mais existem, o mundo se apresenta diferente de um campo de guerra.
Recomeço, sair das vestes e amarras, alçar voo livre, mas assim como um pássaro que por muito tempo viveu engaiolado tudo é muito difícil para ele, principalmente, voar grandes distâncias, ou caminhar grandes distâncias, o costume aprisiona o corpo e a mente, ser diferente é pagar um preço altíssimo, pois gera a incompreensão dos que não sabem voar com suas próprias asas ou andar com suas próprias pernas.
É um mundo novo que aponta no seu caminho. É preciso aprender a desaprender, a memória muitas vezes procura engaiolar trazendo o costume do passado gerando o conflito no presente.
A zona de conforto inicia uma guerra no seu ser, aqui o inimigo é maior, mais poderoso e difícil de ser vencido. A luta é contra si mesmo, aquele que foi com aquele que é (que deseja novos horizontes). Lutar consigo mesmo é a pior das batalhas!
No entanto, seguindo o caminho é que se descobre à vida tão rica de possibilidades. A cada dia vivido uma nova história surge. E é nesse sair de si para o mundo que as batalhas cessam, ou ao menos diminuem no seu ser, e o cavaleiro percebe que para existir a paz, o começo deve surgir dentro de si mesmo. Se estiver em paz, caminha e vai ao encontro do outro e do mundo.
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- Diógenes de Sinope