sexta-feira, 19 de março de 2021

Casa da Minha Madrinha



Da infância, lembranças da casa da minha madrinha.
Atravessava à linha férrea e seguia na rodagem velha.
Estrada de barro, alguns roçados, curto caminho seguia.
Enfeitando o terreiro, boa noite branca em baixo da janela.
 
Ao lado da cozinha onde a encontrava, pé de manga rosa.
Chegava, a bênção tomava. Deus te abençoe! Ficava contente.
Carismática e sorridente, um encanto dentro de mim desabrochava.
Sentada à mesa, eu, ao tamborete, conversávamos docemente.
 
Canto do galo capão abrilhantava o encontro e o dia.
Na instante os discos e compactos do padre Zezinho.
Religiosa, aprendi ainda criança algumas cantigas,
Que ao ouvir recordo de madrinha Zeza com carinho.
 
Íamos visitar a casa de farinha que ao tempo resistia.
Espaço onde vários instrumentos aguçavam à memória.
Sem “farinhadas”, admirava o carro de boi que havia.
Próximo a ele, o forno onde se preparava biju e tapioca.
 
Madeiras e telhas escuras anunciam antigas histórias.
A luz de candeeiro, a manipueira da prensa escorria.
Mulheres sentadas cantando e raspando mandiocas.
Rodos deslizavam para lá e para cá revirando à farinha.
 
Na arupema sobre o coxo a goma era peneirada.
Vários cocos eram ralados produzindo outro alimento.
Café, um gole aqui outro ali para vencer a madrugada.
Hoje, vivas imagens cravadas no meu pensamento.
 
A modernidade trouxe o canal que atravessou à propriedade.
A casa de farinha e a sua morada do local foram arrancadas.
Corte profundo nas reminiscências sepultando a felicidade
De rever de vez em quando monumentos de décadas passadas.
 
Neles estavam representados o labor e o abrigo familiar.
No presente, apesar de obras politiqueiras e mesquinhas,
As águas não irão afogar as belas recordações significativas,
Preservadas nas fotos e palavras da casa da minha madrinha.

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"Não me tires o que não me podes dar!... Deixa-me ao meu sol."
- Diógenes de Sinope