Pam! Paaam!... Pam! Paaam!...
Rasga o céu azul de um dia ensolarado de
primavera o som do apito do trem imaginário. A antiga linha férrea desativada não
é perigosa, não existe mais trem a circular por ela, somente os trilhos são
provas incontestes do que foi e do que ainda há, lembranças e traços de um
quadro chamado: "A passagem".
Nas pinceladas de devaneio rente aos
trilhos, ora retas, ora tortuosas, parecendo os riscos do destino humano, da
história escrita no livro do acordar e dormir, segue seus contornos até alcançar
o derradeiro obstáculo do trajeto que traz consigo uma ironia: “finda ao lado
do cemitério onde cessa à jornada humana na terra, parada obrigatória do trem que
não mais pode deslizar pela incerteza dos trilhos”. Aqui jaz o ser humano e o
trem imaginário. A vida é um ir e vir
diário semelhante ao embarque e desembarque na estação, sendo o trem o
“Eu” transportador das lembranças de lugares, pessoas e paisagens no ondular da existência.
No percurso da linha velha existem
casas, árvores, luz do sol, pássaros cantando e pedras inanimadas juntas dos
trilhos num abraço fraternal a relembrar histórias escondidas de tempos idos em
que se ouvia com muita clareza o Pam! Paaam!... Pam! Paaam!... despertando e advertindo às pessoas que
destinos dentro dos vagões estão sendo conduzidos para construir novas
vivências de mundo, seja ali ou em outro lugar a cada desembarque consumado.
Pam! Paaam!... Pam! Paaam!...
Hoje, apenas os olhos da saudade juntamente
com a imaginação podem constatar o colorido do quadro: " A Passagem". O barulho
cortante no ser avisa que é hora de descer, dali por diante não é possível
prosseguir; é o fim da viagem, os últimos traços foram pintados, somente o
silêncio será o guia rumo ao infinito onde o trem imaginário continuará na
direção do desconhecido, do inominável.
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"Não me tires o que não me podes dar!... Deixa-me ao meu sol."
- Diógenes de Sinope