quarta-feira, 6 de março de 2024

Em Defesa da Dúvida

Numa época em que tantos parecem ter tanta certeza sobre tudo, vale a pena pensar no prestígio que a dúvida já teve. Nos diálogos de Platão, seu amigo Sócrates pulveriza a certeza absoluta de seus contendores abalando-a por meio de sucessivas perguntas, que os acabam convencendo da fragilidade de suas convicções. Séculos mais tarde, o filósofo Descartes ponderou que o maior estímulo para se instituir um método de conhecimento é considerar a presença desafiadora da dúvida, como um primeiro passo.

 Lendo os jornais e revistas de hoje, assistindo na TV a entrevistas de personalidades, o que não falta são especialistas infalíveis em todos os assuntos, na política, na ciência, na economia, nas artes. Todos têm receitas imediatas e seguras para a solução de todos os problemas. A hesitação, a dúvida, o tempo para reflexão são interpretados como incompetência, passividade, absenteísmo. É como se a velocidade tecnológica, que dá o ritmo aos nossos novos hábitos, também ditasse a urgência de constituirmos nossas certezas.

A dúvida corresponde ao nosso direito de suspender a verdade ilusória das aparências e buscar a verdade funda daquilo que não aparece. Julgar um fato pelo que dele diz um jornal, avaliar um problema pelo ângulo estrito dos que nele estão envolvidos é submeter-se à força de valores já estabelecidos, que deixamos de investigar. A dúvida supõe a necessidade que tem a consciência de se afastar dos julgamentos já produzidos, permitindo-se, assim, o tempo necessário para o exame mais detido da matéria a ser analisada. A dúvida pode ser o primeiro passo para o caminho das afirmações que acabam sendo as mais seguras, porque mais refletidas e devidamente questionadas.

- Cássio da Silveira

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Presente Sem Ausência


Correr contra o tempo, eis o designo do homem contemporâneo. Acumular capital para garantir uma vida tranquila amanhã, também. Mas, o amanhã aonde está? Será que vai chegar ou é apenas projeção do hoje mal vivido? E, quando o presente se declarar como o futuro imaginado e nos perguntar: "O que foi feito do ontem?”; e então como responder a tal indagação?

Com certeza a “força criadora” mais uma vez se antecipará como elucidadora dando uma resposta e afirmando assim: "é graças a minha existência que o tempo e o homem foram criados, antes de mim, somente o nada. Contudo, infelizmente, um subjugou o outro, tornando a mim irrelevante frente à ambição do ter que supera a vontade de ser e ser-mais. Existo para fazer florir uma rosa, antes ignorada pelo homem-máquina que perplexo indaga: ‘ainda há força além dos meus braços e pernas capaz de produzir tamanha beleza?’; sim há!”.

 Sempre houve essa força criadora invisível e livre de sujeição. Jamais uma folha seca pediu licença para desprender-se do galho. O sol nunca foi seletivo para iluminar. A noite chega sem perguntar: eu posso?  E nisso reside um vigor destruidor da ilusão de um mundo enquadrado pela globalização econômica e da informatização, cuja meta é a riqueza sem limites.

O tempo presente é para ser vivido e não apenas para saber que estamos aqui ou ali desempenhando funções sociais. Presente de plena realização é sinônimo de passado superado, é a garantia de um futuro no agora do qual participo ativamente forjando o meu ser, e não apenas respondendo a mecanismos que me moldam apenas de forma unilateral. Vivo na minha plenitude e não somente existo em conformidade com os ditames impostos socialmente: “está na hora de acordar, digitar, trabalhar, descansar, almoçar, beber... E ser feliz ao menos, posso ser?”.

Portanto, o passado não é mais, ficou na lembrança. O futuro, virá? Será da forma que imaginei ou das minhas ações no agora? Então, o "presente vivo e sem ausência profunda”, é a melhor forma de dar sentido ao que fazemos no cotidiano, é expandir a força criadora que cada um tem, impedindo a coisificação sob o domínio do capital e do tempo mal aproveitado e instrumentalizado.

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

A Construção


Toda construção é uma reprodução de uma história do pensamento humano. Nela encontram-se reflexos do cotidiano das pessoas. O bem, o mal, a alegria e o sofrer estão nos seus contornos e detalhes vivos e silenciosos a nos impor grandiosidade.

Para alguns olhares despreparados devido aos seus conhecimentos restritos, apenas uma natureza morta. Para outros cuja admiração é excessiva, uma produção perfeita das mãos humanas. Por fim, para os apreciadores e estudiosos da arte, vem a ser uma paisagem dinâmica. Seja como for, toda edificação demanda tempo e dedicação para ser erguida, e exige muita atenção para ser apreciada.

Em contraste com a vivacidade da obra se tem a deterioração inevitável, resultado do tempo de uso e das mudanças climáticas. A utilização e a transformação são os meios que promovem o perecimento. Mas, se houver um cuidado com a restauração sempre que aparecer o desgaste, a sua existência poderá ter uma durabilidade maior. Assim, à medida que se tem a degradação também deve se fazer presente a manutenção.

A construção deve refletir confiança estrutural e ser espelho que reflete à imagem de quem a concebeu, deve ser filha do “EU” que serve ao “NÓS” numa profunda relação de harmonia. Por isso, a amizade também é uma "Construção", cujos pilares se assemelham a o que foi acima mencionado, porque do contrário não será significante e tão pouco virá a ser uma obra de arte. Portanto, toda amizade concreta é uma construção com arte das mãos humanas.

 

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Há Um Homem Sentado No Chão

 

Há um homem sentado no chão.
Medita? Talvez não; talvez sim.
Máquinas de prontidão. Rasgão!
Sonhos e memórias põem fim.
Muito dinheiro, Consórcio Acauã.
Cobiça de Luiz, João, Anísio e Jair.
Lá vem o canal, eis a transposição.
 
Há um homem sentado no chão.
Por aqui, não! Protesta por mim!
O direito é para uns, para outros não.
Venceu o dinheiro, foi simples assim.
Cai casa de farinha, árvores e cacimbão.
Brindam suas excelências, tim! tim! tim!
Governantes servindo a Nação, sem noção.
 
Há um homem sentado no chão.
Sítio Várzea Grande, terras mexidas vi.
Grande era a Várzea antes da podridão.
Escassez! Hoje falta d’água aqui e ali.
Ferida aberta, resta pequeno quinhão.
Sem ter onde pousar, chora o bem-te-vi.
Água suja, obra travada, devastação.
 
Há um homem sentado no chão.
Símbolo de resistência; bravio!  
Desafiou a ordem do “PolitiCão”.
Defendeu sua terra com muito brio.
Sindicato rural? Triste filho da inanição!
Restando para o agricultor desprotegido,
Blá, blá, blá politiqueira e reles indenização.

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Ter Um Amigo


As vezes nos perguntamos qual é o sentido da vida. De repente, podem surgir inúmeras explicações, mas, dentre tantas, destaco uma: "ter um amigo”.

A amizade nos dias de hoje é muito rara. Apesar de nada custar, ter um amigo, e não um seguidor, conhecido, ou apenas alguém do lado, vem ser o “elixir da longa vida” que não se encontra pronto para o consumo e a venda em qualquer lugar. Infelizmente em um mundo veloz e de relações fúteis são poucas as pessoas que tem os meios de produzi-lo, e mesmo assim quando o faz é em escala pequena. Assim, ter um amigo é ter o elixir da longa vida.

No mundo de tecnologia que junta as pessoas, feliz de quem possui e tem um amigo “não apenas virtual”. Ter um amigo é ter com quem dividir o fardo pesado que carregamos. É construir uma morada segura para abrigar os sentimentos que vivem perambulando pelas ruas mendigando atenção. Ter um amigo é terreno sagrado onde se pisa de maneira respeitosa e com devoção na busca de bênçãos para iluminar a jornada terrena. Portanto, ter um amigo é adentrar a dimensão do sagrado que há em nós.

No mundo virtual, ter um amigo “real” exige não apenas conteúdo digital, mas uma grande história de vida vivida no chão, no caminhar diário entre dias e noites, no sol, na chuva, na alegria e na tristeza. Se por ventura nada disso for testado de forma prática para além do conteúdo digital, não passará de joguinhos eletrônicos em que a máquina vencerá o humano, acarretando frustração a cada derrota, tornando a relação efêmera pelo desprendimento da realidade de outras dimensões não vividas em parceria, em comunhão. Destarte, ter um amigo é sentir o sopro da vida até que cesse.

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Partiste, Tia Cezarina


No cantinho do café,
Dolorida despedida.
Várzea Grande, Sapé.
Teu sorriso não se via.
Alpendre, mesa sem talher.
Tua ausência sentida.
Partiste, tia Cezarina.
Faz tua travessia com fé.
Até um dia flamenguista!
Pelo chão gato e cão entristece,
Sem ela, faces abatidas.
Último sopro de vida; pois é.
Segue em paz, tia Cezarina.
Até um dia! Até...

sábado, 29 de abril de 2023

Ítalo


É abril.

E a porta da vida abria.

Tua vinda, alegria florida.

Ítalo, d´Itália.

Nos meus braços estás.

Tranquilo, sono da paz.

Pequenino taurino, sagaz.

Personalidade: intuitivo,

Forte, pensador e perspicaz.

Botãozinho de Dália,

Flor chamada: “vivaz”.

Tua pequenina nobreza.

Italus, lendária realeza,

Encanta, é pureza, é paz.

Brilha forte após noite fugaz.

Candura, teu rosto ternura.

Escultura de amor, beleza pura.

Luz divina que entre nós está.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Mágoa



Má, (GO), há.
Mar, água opaca.
(IR), solitário andar.
Sentir dor não física.
 
Sem som, sol e amar.
Tristeza, falta de ar.
Ah, mágoa que machuca!
Sem remédio, asa quebrada.
 
Palavras ditas sem pensar.
Feridas invisíveis abertas,
Talvez pouco possa durar.
 
Mas, lembrar é voltar.
Passado, beber má água.
Mágoa, cresce e frutifica.

quinta-feira, 30 de março de 2023

Calvário de Pôncio Pilatos

 

O mundo não gira e nem é plano; capota! Se Pôncio Pilatos lavou às mãos na sexta-feira, espero que o Ministro da Justiça, Flávio Dino, não repita tal ato na visita a Paraíba.

Sobre o assassinato de Marielle Franco é questão de honra prender, diz Dino. E quanto a falta de juízes para julgar os condenados da Operação Calvário, é questão de quê ou quem? Será que teremos novas mãos lavadas na Paraíba? Ou desta vez o nomeado para o julgamento será Pôncio Pilatos? Bem, a sexta é bem chamativa para a reflexão sobre o que é justiça.

É, foi justamente na sexta-feira nada santa que Barrabás apesar de tantos crimes foi absolvido. A gritaria era grande, os partidos a época juntaram seus filiados e foram saudar e gritar para as autoridades: “Barrabás livre!”. Bem, como não era no Brasil, o julgamento não voltou para a primeira instância, as mãos foram lavadas imediatamente após a eleição do condenado. Bem, segundo a história, Jesus era inocente da condenação, só não sei se todo condenado eleito também é.

Pelo visto, ser fariseu não é uma questão de debate politiqueiro, é de justiça também. E, é bom lembrar que o Messias foi crucificado no meio de ladrões, mas nem por isso perdeu sua santidade, me refiro a Jesus, pois nem todo Messias por estar no meio de ladrões pode ostentar uma coroa de espinhos da santidade.

A sexta-feira sem santidade na Paraíba será de inauguração pelo Ministro da Justiça, Flávio Dino, que longe da Calvário (Operação), tem um PCC (Pacotão de Crimes Comandados) para conter fora das prisões, e que aterrorizam o cenário da politiquice paraibana. Pois é, ainda “Somos Todos Paraíba” em questão de injustiça. Judas está solto, nós não estamos!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Ser 22

Ser 22 é para poucos, diria, ser 22 é raro, e também caro, tem um preço pelo esforço para chegar a ser, mas a recompensa e a verdade de ser vêm com o tempo.

É inegável que ter “corpo de atleta” é muito importante para chegar a ser 22. Quanto a estar vacinado contra a Covid 19, torna-se uma escolha para quem deseja ser 22, principalmente, se há uma preocupação no que se injeta no corpo.

Ser 22 é assumir riscos e consequências. É enfrentar a imprensa nacional e internacional que longe da cientificidade determina o que é “politicamente correto para saúde individual e coletiva”. Ser 22 é defender-se diante de um judiciário que não tendo argumentos científicos para obrigar uma vacinação sem ferir o direito de liberdade de cada um sobre o seu corpo, opta por alegar o exemplo, sim, “mau e bom exemplo” é o veredicto final.

2022 poderia ter sido o ano do 22, mas somente em 2023 é que isso veio a se tornar realidade incontestável. Barulho da imprensa e sensacionalismo exacerbado com uma dose de “politicalha diplomática”, tardaram o 22, mas não impediram Novak Djokovic (Nole) de ostentar um ano depois, 22 Grand Slams, a décima vitória no Australian Open e volta triunfal como o número 1 do mundo no tênis.

2022 sem o 22 foi uma lacuna difícil de ser preenchida por Novak Djokovic e seus fãs. Contudo, jogando outros torneios no mesmo ano, o número 5 brilhava como se fosse o 1, que somente um ano depois foi alcançado. Justiça tardia é injustiça mascarada com ou sem a paranoia de vírus midiático.