No Monte Calvário, próximo da Confraria do Sorrisal, Boy Carioca
espera o resultado da eleição com o ouvido coladinho no rádio. Enquanto espera,
escuta o comercial da grife de roupa sub judice Nil Fashion: " Faça o dedinho
em V e vista-se de mudança”. Após a
apuração final, Boy Carioca derrotado e triste, canta uma música de desabafo:
“Dei cachaça, tira-gosto/ E dinheiro de montão/ E mesmo assim perdi a eleição/ Traidor,
traidor/ Se tem coisa que não presta é um tal do eleitor...” (Moreira da Silva).
Dentro de uma plantação de girassóis ao
sopé do Monte Calvário, junto à Cruz Vermelha, alguém balbucia: “JUIZ É O
POVO”. Virgulino, cabra da peste, com
fogo nos olhos, libera seu bando para procurar quem por ventura tenha gritado, poderia
ser um inimigo político. Zap! Zap! Os facões
amolados de Virgulino e seu bando saíram derrubando os girassóis por terra.
Procura ali, mexe acolá, e nada. Enquanto isso, tucanos vindos de Campina Grande
se fartavam das sementes, ao mesmo tempo que um velho mestre de obras passava
ao largo sorrindo.
“ELE É TRABALHADOR! NADA ROUBO!” Eis que
surge uma assombração encarcerada em forma de alminha e acima da Cruz Vermelha
uma estrela resplandece no céu da praia de Cabo Branco. Prenúncio de mau agouro,
uma onda azul repentinamente se forma, se agiganta, e inunda o Monte Calvário e
tudo que estava ao seu redor.
Virgulino vendo tudo aquilo desiste da
procura e sai ao encontro de “padin capitão”. O boy carioca procura seu protetor na Confraria do Sorrisal, se veste de azul e vai pagar suas promessas. E a voz miúda que vinha da plantação de girassóis: “O POVO É O JUIZ”, provavelmente se afogou ou voltou a ser uma estrelinha no céu, infelizmente,
nada se sabe. Tem um dito popular que poderá responder: “Ladrão endinheirado não morre enforcado”; pois é, quem sabe morre afogado na onda azul do mar.
“Se a voz da
noite responder/ Onde estou eu, onde está você/ Que estamos cá dentro de nós/ Sós.
Se a voz da noite silenciar/ Raio de Sol vai me levar/ Raio de Sol vai lhe
trazer/Onde estará o meu amor?...” (Chico César).
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"Não me tires o que não me podes dar!... Deixa-me ao meu sol."
- Diógenes de Sinope