Coisas da politiquice
que se anuncia, o novo bandido a casa retorna. Disfarce e a quem culpar não
faltam. Síndrome do “bom marginal”: “ser trabalhador, ser pai de família e
apontar o dedo para outro do seu mesmo quilate”. Mas como o caminho de volta,
se é que saiu alguma vez, é repleto de girassóis e estrelas, é assim a história
contada por Diógenes a luz do candeeiro:
"Um homem tinha
dois filhos ou mais, acho? O mais novo disse ao seu pai: ‘Pai, quero mudar de
partido, quero seguir minha carreira politiqueira em outra legenda. Quero
plantar girassol e não mais olhar a estrela que se ofusca no céu das
mensalidades pagas aos colarinhos brancos’. Assim, o pai honesto e bondoso, um
verdadeiro pai dos pobres, repartiu o dinheiro do fundo partidário entre eles.
Não muito tempo depois,
o filho mais novo reuniu tudo o que tinha e foi para uma região distante; e lá
desperdiçou os seus bens administrando irresponsavelmente. Comia em excesso
carne de carneiro e lagosta. Tinha várias mulheres. Associou-se a membros da
Cruz Vermelha, tomava vinho contrabandeado, sem falar que o grande amigo João
não o largava, em toda a farra estava dentro, e dizia ele: ‘João, você
continuará plantando sementes de girassóis pelo mundo, será um grande semeador,
depois de mim, é claro’. E o fiel João da Cruz seguia à risca os ditames do
chefe.
Depois de ter gasto
tudo, houve uma grande pandemia em toda aquela região, e ele começou a passar
necessidade, pois não possuía mais cargo público. Chegou até a candidatar-se a
um cargo político, porém sua fama de improbidade administrativa já era notória.
E suas amizades e ‘inimizades de mentirinha’ o denunciava. Mas sabe como é em
política, o que sobra de máscaras, falta de vergonha na cara. Por isso foi
empregar-se com um dos cidadãos mais idôneo daquele país, amigo do passado
quando frequentavam o bar estrela vermelha, que o mandou para o seu campo a fim
de cuidar dos pobres votantes.
Ele desejava encher os
cofres, logo começou a fazer obras, tinha fama de trabalhador. Hospitais,
reforma de escolas, estradas, e nas horas vagas um show de U2, ninguém é de
ferro. Mas aos poucos viu que sua plantação de girassol estava declinando, pois
é, girassol só brilha a luz do dia, enquanto a estrela adora a escuridão da
noite, por isso todo gato à noite é pardo. Com os olhos fitando o céu, caindo
em si, ele disse: 'Quantos empregados de meu pai têm cargos públicos de sobra,
e eu aqui, morrendo de fome! Ah, legenda que não me serve mais!’ Eu me porei a
caminho e voltarei para meu pai e lhe direi: ‘Pai, pequei contra o partido e
contra ti que és uma estrela. Não sou mais digno de ser chamado de filiado;
trata-me como um dos teus cabos eleitoreiros’. A seguir, levantou-se e foi noticiar
à imprensa sua nova filiação.
Ainda em começo de campanha, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e perguntou: ‘Se vacinou?!’. O filho lhe disse: ‘Pai, me vacinei, e também pequei contra o céu de estrelas e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado de filiado’. Mas o pai disse aos seus companheiros (as): ‘Depressa! Tragam a melhor camiseta com a minha fotografia e vistam nele. Coloquem um boné vermelho. Façam uma nova ficha de filiação’. E aos gritos dos babões estava o bandido pródigo de volta ao lar junto aos seus “parças”. Tragam o novilho gordo e matem-no. Vamos fazer uma festa e alegrar-nos. Convoquem os jornalistas globais. Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado. E começaram a festejar o seu regresso.
Enquanto isso, o eleitor mais velho estava olhando. Quando se aproximou da casa, ouviu a música e a dança. Então chamou um dos partidários e perguntou-lhe o que estava acontecendo. Este lhe respondeu: ‘O antigo salteador voltou, e seu pai matou o novilho gordo, porque o recebeu de volta são e salvo, nem tornozeleira tinha’. O eleitor mais velho encheu-se de ira e não quis entrar. Então seu pai santo saiu e insistiu com ele.
Então ele respondeu ao seu pai: ‘Olha! todos esses anos tenho trabalhado como um militante ao teu serviço e nunca desobedeci às tuas ordens. Mas tu nunca me deste nem um ministério para eu festejar com os meus amigos. Nem um dia de descanso no Sítio de Atibaíba. Mas quando volta para casa esse teu filho suspeito, que esbanjou os teus bens de Caixa 2, matas o novilho gordo para ele!’Disse o pai ao eleitor velho: ‘Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que tenho é seu, exceto, e listou uma infinidade de bens... Mas nós tínhamos que celebrar a volta deste seu irmão e alegrar-nos, porque ele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado; e claro, vai conseguir votos para nossa legenda e para mim...’
Então, ao terminar a historinha Diógenes segue com o candeeiro aceso, e é indagado: “Qual a moral disso tudo que você contou? De pronto, ele responde: “Não há moral!”.
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"Não me tires o que não me podes dar!... Deixa-me ao meu sol."
- Diógenes de Sinope