quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Náufrago



Vendaval no coração, preocupação.
Segue o homem seus sentidos.
Mar do ser revolto, tribulação.
Na sua mão, o leme é o ignoto destino.
Peça do quem sabe, sim, não ou se.
Ondas balançando às indagações do por vir.
Olhos fixados no telhado e corpo estático deitado.
Pensamento acelerado, alma penada, nado.
Prisão nas imagens e sons que ouve, vento na vela.
Invisível alvoroço que leva para o fundo do poço.
Braçadas para evitar o afogamento nos tristes lamentos.
Escotilhas, janelas da casa. Quarto, porão de amargura.
Silêncio na noite úmida e sem orientação da Estrela Polar.
Escuro ruminar, sem quadrante, astrolábio e ampulheta.
Rumo de lanterna apagada pelo sopro de Netuno, rei das águas.
Contínuo lá e cá, ir e vir sem bússola, vagando no pensar.
Ansiedade é o amanhã antecipado, cegueira profunda no que virá.
Naufrágio nas pedras, travesseiro do incompleto desejo.
Desperto, novo dia seu começo e o lençol dobrado.
Ondas se movem e lançam madeiras do barco na praia.
Estendido na areia pelo canto ilusório da vida e da sereia.
Adeus embarcação e tripulação, resta apenas interrogação.
Mudez mais umas vez ante as certezas que agora são vãs.
Recomeçar? Dúvidas nas preces, promessas e no talismã.
Foi quase um adeus, respiro à maresia e o cheiro da alga marinha.
Perguntando afinal no apogeu do tormento do entendimento do naufrago:
 “ Há Deus ou somente lutas de palavras incorporadas, marés e mares?”.

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"Não me tires o que não me podes dar!... Deixa-me ao meu sol."
- Diógenes de Sinope