Certa manhã saiu o sábio Diógenes de Sinope a passear tranquilamente pela
cidade com sua lanterna acesa, era um dia quente e ensolarado. Um curioso
debochado que por ali passava, não resistindo à cena hilária, pergunta: “O que
procura em plena luz do dia com a lanterna acesa?” Diógenes respondeu: “duas
máscaras enfadonhas e sujas”. Quer trocá-las por essa que você está usando,
disse aos risos o homem julgando certa insanidade em tal intento. Diógenes
constatando certa malicia diz: “máscaras e palavras cada ser humano possui as
suas, usando-as como bem convier e na medida de seus rostos que muito denunciam
do seu caráter, apesar da ilusão de proteção aos olhos julgadores do público”.
Dias depois, o zombeteiro topa com Diógenes, dessa vez sem máscara e
apenas com sua lanterna acesa, aí o homem fala de forma áspera: “Diógenes, sem
máscara?! Você não tem medo do ‘monstro da natureza’ e da ‘gripezinha’?
Ainda está procurando as duas máscaras?” Diógenes retrucou: “A
máscara tirei faz tempo, a que uso para me proteger a trouxe no bolso, mas como
há quebra da distância social, vou colocá-la, infelizmente você me impediu de
respirar um ar puro, porque o que sai da nossa boca juntamente com as palavras
encontra-se infectado de ignorância podendo nos causar danos irreversíveis.
Quanto às duas máscaras que procuro, devo levar um tempo para encontrá-las, e
são justamente as dos criadores das palavras mais profundas da pandemia:
"monstro e gripezinha”. Confuso e perplexo partiu o homem, no entanto,
aquelas respostas ressoavam no seu ser.
Passado um tempo e incomodado com as respostas, foi o trocista a procura de Diógenes, e ao revê-lo indagou de forma risonha: “Encontrou às duas
máscaras para devolvê-las aos respectivos donos?” Não, disse Diógenes, e
completou: “é justamente por isso que uso à lanterna como auxílio para enxergar
melhor, porque a dificuldade está na visão, as duas máscaras já caíram faz
tempo, e os rostos mostrados trazem um reflexo de decadência escrito na testa,
mas não queremos aceitar, falta-nos imaginação. O homem olhou a sua volta e
nada via, porém as palavras e ações do sábio incomodavam...
Assustado o pobre homem se dirige a Diógenes: “Como farei
para encontrá-las?” Acenda à sua lanterna, disse em resposta para aquela alma
já sem graça, abra bem os olhos, procure sem medo das opiniões, intervenções e
da cegueira daqueles (as) que seguem à risca as palavras dos “celebres
etimologistas pandêmicos”, assim, talvez podemos achá-las juntos, e então,
devolvê-las aos seus verdadeiros donos, caso desejem, pois os mesmos podem
alegar sujeira e tédio igual o reflexo dos seus rostos em um espelho de contos
de fada, e citou: “Espelho, espelho meu... é preciso olhos aguçados para não
tropeçarmos nas palavras e máscaras que usamos e não nos pertencem".
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"Não me tires o que não me podes dar!... Deixa-me ao meu sol."
- Diógenes de Sinope