sábado, 11 de julho de 2020

A Lanterna e as Máscaras

Certa manhã saiu o sábio Diógenes de Sinope a passear tranquilamente pela cidade com sua lanterna acesa, era um dia quente e ensolarado. Um curioso debochado que por ali passava, não resistindo à cena hilária, pergunta: “O que procura em plena luz do dia com a lanterna acesa?” Diógenes respondeu: “duas máscaras enfadonhas e sujas”. Quer trocá-las por essa que você está usando, disse aos risos o homem julgando certa insanidade em tal intento. Diógenes constatando certa malicia diz: “máscaras e palavras cada ser humano possui as suas, usando-as como bem convier e na medida de seus rostos que muito denunciam do seu caráter, apesar da ilusão de proteção aos olhos julgadores do público”.
Dias depois, o zombeteiro topa com Diógenes, dessa vez sem máscara e apenas com sua lanterna acesa, aí o homem fala de forma áspera: “Diógenes, sem máscara?! Você não tem medo do ‘monstro da natureza’ e da ‘gripezinha’? Ainda  está procurando as duas máscaras?” Diógenes retrucou: “A máscara tirei faz tempo, a que uso para me proteger a trouxe no bolso, mas como há quebra da distância social, vou colocá-la, infelizmente você me impediu de respirar um ar puro, porque o que sai da nossa boca juntamente com as palavras encontra-se infectado de ignorância podendo nos causar danos irreversíveis. Quanto às duas máscaras que procuro, devo levar um tempo para encontrá-las, e são justamente as dos criadores das palavras mais profundas da pandemia: "monstro e gripezinha”. Confuso e perplexo partiu o homem, no entanto, aquelas respostas ressoavam no seu ser.
 Passado um tempo e incomodado com as respostas, foi o trocista a procura de Diógenes, e ao revê-lo indagou de forma risonha: “Encontrou às duas máscaras para devolvê-las aos respectivos donos?” Não, disse Diógenes, e completou: “é justamente por isso que uso à lanterna como auxílio para enxergar melhor, porque a dificuldade está na visão, as duas máscaras já caíram faz tempo, e os rostos mostrados trazem um reflexo de decadência escrito na testa, mas não queremos aceitar, falta-nos imaginação. O homem olhou a sua volta e nada via, porém as palavras e ações do sábio incomodavam...
   Assustado o pobre homem se dirige a Diógenes: “Como farei para encontrá-las?” Acenda à sua lanterna, disse em resposta para aquela alma já sem graça, abra bem os olhos, procure sem medo das opiniões, intervenções e da cegueira daqueles (as) que seguem à risca as palavras dos “celebres etimologistas pandêmicos”, assim, talvez podemos achá-las juntos, e então, devolvê-las aos seus verdadeiros donos, caso desejem, pois os mesmos podem alegar sujeira e tédio igual o reflexo dos seus rostos em um espelho de contos de fada, e citou: “Espelho, espelho meu... é preciso olhos aguçados para não tropeçarmos nas palavras e máscaras que usamos e não nos pertencem".

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"Não me tires o que não me podes dar!... Deixa-me ao meu sol."
- Diógenes de Sinope